Medicina Medieval: Entre Crenças, Curandeiros e os Primeiros Passos da Ciência

A medicina medieval, praticada entre os séculos V e XV, foi uma mistura fascinante de crenças religiosas, influências clássicas e experimentação rudimentar. Embora muitas de suas práticas possam parecer arcaicas hoje, esse período lançou as bases para o desenvolvimento da medicina moderna. Neste artigo, exploraremos a medicina medieval em profundidade, desde suas principais influências até os métodos terapêuticos e os avanços que moldaram a ciência médica.

O Contexto da Medicina Medieval

Durante a Idade Média, a medicina foi amplamente influenciada pela religião e pela filosofia greco-romana. A maioria dos conhecimentos médicos vinha de textos antigos, principalmente os de Hipócrates e Galeno. Como a Igreja controlava grande parte do conhecimento acadêmico, os tratamentos médicos eram frequentemente misturados com práticas religiosas e rituais.

A Europa também absorveu influências do mundo árabe, que preservou e expandiu os conhecimentos médicos da Antiguidade. Durante o período medieval, os estudiosos muçulmanos traduziram e comentaram obras médicas clássicas, contribuindo significativamente para o avanço da medicina.

Os Quatro Humores e o Equilíbrio do Corpo

A teoria dos quatro humores, desenvolvida por Hipócrates e ampliada por Galeno, dominou a medicina medieval. Essa teoria sugeria que o corpo humano era composto por quatro fluidos principais:

  • Sangue (associado ao calor e à umidade);
  • Bile amarela (associada ao calor e à secura);
  • Bile negra (associada à frieza e à secura);
  • Fleuma (associada à frieza e à umidade).

Doenças eram interpretadas como um desequilíbrio entre esses humores, e os tratamentos visavam restaurar a harmonia no organismo. Sangrias, uso de purgantes e dietas específicas eram prescritos para corrigir esses desequilíbrios.

Instituições e Profissões Médicas

Monges e Mosteiros

Os mosteiros desempenharam um papel central na prática e transmissão do conhecimento médico. Os monges copiavam manuscritos antigos e cuidavam dos doentes em hospitais monásticos. Muitas ordens religiosas, como os beneditinos, mantinham hortas medicinais e estudavam os efeitos das ervas no tratamento de doenças.

Universidades e Escolas de Medicina

A partir do século XII, surgiram universidades na Europa, e com elas, escolas de medicina renomadas, como a Escola de Salerno, na Itália, e a Universidade de Montpellier, na França. Essas instituições ajudaram a consolidar um ensino mais sistemático da medicina.

Cirurgiões-Barbeiros

Diferente dos médicos eruditos, que frequentemente evitavam intervenções cirúrgicas, os cirurgiões-barbeiros realizavam procedimentos como extração de dentes, sangrias e amputações. Apesar de rudimentares, seus conhecimentos práticos eram essenciais para lidar com ferimentos de guerra e doenças infecciosas.

Tratamentos e Práticas Médicas

Sangria

A sangria era um dos tratamentos mais populares na Idade Média. Acreditava-se que a remoção de sangue ajudava a restaurar o equilíbrio dos humores. Era realizada com o uso de sanguessugas ou incisões na pele.

Uso de Ervas Medicinais

As ervas eram amplamente utilizadas para tratar doenças. Algumas das mais populares incluíam:

  • Camomila (calmante e digestivo);
  • Alho (antimicrobiano natural);
  • Hortelã (para problemas digestivos);
  • Erva-de-São-João (usada contra melancolia e depressão).

Amuletos e Orações

Muitos acreditavam que doenças eram causadas por influências astrológicas ou castigos divinos. Assim, além de remédios tradicionais, amuletos, exorcismos e preces eram frequentemente empregados para afastar enfermidades.

Cauterização e Cirurgias Rússicas

A falta de anestesia tornava as cirurgias medievais extremamente dolorosas. A cauterização, realizada com ferro em brasa, era um método comum para estancar sangramentos e prevenir infecções. Cirurgias mais complexas eram raras e perigosas.

Epidemias e a Medicina Medieval

A Idade Média foi marcada por epidemias devastadoras, sendo a Peste Negra a mais famosa. Durante essa pandemia, que matou milhões de pessoas no século XIV, os médicos utilizavam roupas protetoras, como as típicas máscaras de bico, recheadas com ervas aromáticas para “purificar” o ar.

A medicina da época não possuía meios eficazes para conter a peste, e muitas explicações eram baseadas em crenças religiosas ou astrológicas. A quarentena surgiu como uma das primeiras medidas efetivas de contenção de doenças infecciosas.

Avanços e a Transição para a Medicina Moderna

No final da Idade Média, começaram a surgir práticas mais baseadas na observação e experimentação, pavimentando o caminho para a revolução científica do Renascimento. Obras de médicos como Avicena, com seu “Cânone da Medicina”, e Paracelso, que introduziu conceitos de química na medicina, ajudaram a mudar o paradigma médico.

Conclusão

A medicina medieval foi um período de transição, repleto de práticas baseadas em tradições antigas, crenças religiosas e conhecimentos empíricos. Apesar de suas limitações, desempenhou um papel crucial na evolução da medicina, preservando e desenvolvendo ideias que mais tarde levariam a descobertas médicas revolucionárias.

Compreender esse período histórico nos ajuda a reconhecer os desafios enfrentados pelos médicos medievais e a valorizar os avanços que permitiram o desenvolvimento da medicina moderna.

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